Dia Mundial dos Animais: estudos internacionais de bem-estar animal expõem injustiça

Mais de 400 acadêmicos de 39 países, especializados em filosofia moral e política, expõem a injustiça da exploração animal com base no conhecimento coletivo atual nos seus campos de especialização: “Condenamos as práticas que envolvem o tratamento de animais como objetos ou mercadorias. Na medida em que envolve violência e danos desnecessários, declaramos que a exploração animal é injusta e moralmente indefensável”.

Esta declaração (traduzida aqui) foi iniciada por investigadores do Centre de Recherche en Éthique de Montréal. Faz alusão, em termos éticos, à Declaração de Cambridge sobre a Consciência, afirmando que provas convergentes indicam que os animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos dos estados conscientes, juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais.

Os signatários afirmam que os argumentos utilizados para apoiar a exploração animal não são científicos, particularmente os relacionados com as capacidades mentais “inferiores” dos animais: a capacidade de compor sinfonias, fazer cálculos matemáticos avançados, ou se projetar num futuro distante, por muito admirável que seja, não afeta a consideração devido ao seu interesse individual em sentir prazer e não sofrer. Os interesses dos mais inteligentes entre os humanos não importam mais do que os interesses equivalentes dos menos inteligentes. Dizer o contrário equivaleria classificar os indivíduos de acordo com faculdades que não têm qualquer relevância moral.

Embora o seu trabalho esteja enraizado em diversas tradições filosóficas, estes estudiosos concordam com a condenação do especismo e com a necessidade de transformar a nossa relação com outros animais, pondo fim à sua exploração. Tal posição, outrora ocupada por algumas pessoas particularmente sensíveis ao destino dos animais, é agora, pela primeira vez, apoiada por centenas de investigadores que têm dedicado as suas carreiras à reflexão ética.

A favor do encerramento dos matadouros, do fim da pesca e do desenvolvimento de uma agricultura baseada em plantas, os signatários admitem lucidamente que, mesmo que constitua o único horizonte comum que é realista e justo, tal projeto exigirá a renúncia a hábitos culturais enraizados e a transformação de numerosas instituições fundamentalmente.

Em 2022, a Declaração de Montreal sobre a Exploração Animal constitui certamente um passo importante no reconhecimento – apoiado por filósofos – de animais não humanos.

Para Taylison Santos, Diretor Executivo do Fórum Animal, o Dia Mundial dos Animais deve ser colocado nos calendários escolares, para que as crianças tenham oportunidade de pensar, desenvolver e criar atividades que possam ajudar na proteção dos animais. E é pensando nisso que o Fórum Animal, através do projeto VegMonitor criou uma petição online e um Projeto de Lei que pede a criação do Dia Nacional da Consciência Animal, para que todos tenham oportunidade tem entender que além de comemorarmos a existência de outros seres vivos neste planeta, temos que valorizar cada vida pelo que ela representa.

Relatório expõe falta de políticas de bancos para impedir investimentos na crueldade animal

Um novo relatório publicado neste dia 6 de dezembro pela ONG internacional Sinergia Animal e o empreendimento social Shifting Values mostra que quase metade dos bancos e investidores avaliados não possui políticas que previnem as piores formas de crueldade animal nas decisões sobre empréstimos e financiamentos.

O documento, publicado em conjunto com a plataforma interativa Banks for Animals, avaliou as políticas de 69 bancos e investidores de 19 países diferentes em cinco continentes (Ásia, Europa, América do Norte, Oceania e América do Sul).

Desses, 90% obtiveram menos da metade da pontuação máxima, que segue 21 critérios como a proibição de mutilações e o confinamento de animais da pecuária em gaiolas, do teste de animais e do comércio de animais silvestres. Quase metade das instituições não conseguiu um ponto sequer.

“Nós estamos pedindo que os bancos adotem políticas mais rigorosas para prevenir algumas das piores crueldades praticadas contra os animais. Isso não só é de uma importância crucial para os animais, como também uma estratégia de minimização de riscos para as próprias instituições”, explica Merel van der Mark, gerente de finanças e bem-estar animal da Sinergia Animal, uma organização internacional de proteção animal que trabalha em países do Sul Global pela redução do sofrimento de animais da pecuária e a promoção de escolhas alimentares mais saudáveis. Ela afirma que a conexão com o financiamento da pecuária intensiva, por exemplo, pode oferecer sérios riscos de reputação.

No Brasil, o projeto avaliou 5 bancos — Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, BTG Pactual e BNDES — e concluiu que, em média, obtiveram pontuação de 4,2% (1,8, de um total de 42 pontos). Além desses, alguns bancos estrangeiros que operam no país, como o Santander, também foram analisados.

Nenhum banco pontuou em critérios específicos de bem-estar animal. O Banco do Brasil obteve um ponto por definir restrições ao uso de engenharia genética em animais e todos os bancos receberam um ou dois pontos por possuírem uma linha financeira especial que promove sistemas de produção alimentar sustentáveis e amigáveis aos animais.

“É muito preocupante ver que esses bancos, principalmente aqueles com maior exposição à pecuária, como bancos rurais ou da agricultura, não dispõem de políticas importantes em relação ao bem-estar animal. Como políticas que recusem o financiamento de operações que confinam animais em gaiolas minúsculas e os mutilam sem anestesia ou analgésicos. Ainda há muito espaço para melhorias”, afirma Merel.

Mais transparência no setor financeiro

O objetivo do projeto Banks For Animals é ampliar a transparência no setor financeiro, encorajar instituições financeiras privadas a adotarem políticas que visem melhores práticas em relação aos animais e oferecer apoio à transição a sistemas de alimentação baseados em vegetais.

Políticas que fomentam o bem-estar animal e a alimentação vegetal funcionam como protocolos que guiam a decisão de cada banco sobre onde investir seu dinheiro. Se a instituição possui uma política de bem-estar animal rigorosa, isso significa que ela não deve financiar certas práticas e atividades consideradas cruéis com os animais.

O mesmo já aconteceu em outras áreas consideradas sensíveis, como os direitos humanos e o meio ambiente. “Os bancos já estão muito mais avançados quando se trata de políticas relacionadas aos combustíveis fósseis ou ao desmatamento. Esperamos que este relatório irá encorajá-los a também progredir em relação aos animais”, comenta Merel.

Plataforma interativa permite que usuários enviem mensagens pedindo melhores políticas a seus bancos

O site Banks for Animals fornece as redes sociais e outros meios de contato dos bancos para que seus clientes possam enviar mensagens demandando melhores políticas ou parabenizar aqueles que já aplicam bons parâmetros.

O site também oferece aos usuários um ranking atualizado da pontuação de cada banco em relação a políticas de bem-estar animal e um sistema de comparação entre diferentes instituições, o que pode ser útil para quem for decidir de qual banco quer ser cliente.

“Os bancos usam o nosso dinheiro para fazer investimentos. Eles guardam o dinheiro que os clientes mantêm em suas contas e ao mesmo tempo oferecem crédito a negócios e outras pessoas na forma de empréstimos. Esses empréstimos podem ser usados para uma variedade de propósitos, incluindo aqueles que podem ser extremamente nocivos aos animais”, explica Merel.

O site foi desenvolvido em parceria com a Tech to the Rescue, Gerere e Netguru. “Ele faz parte de um programa de voluntariado que procura demonstrar como a tecnologia pode ser usada pelo bem, para a construção de um mundo melhor”, afirma Jacek Siadkowski, diretor geral da Tech To The Rescue. A plataforma está hospedada com licença de código aberto. Ou seja, seu código pode ser reproduzido gratuitamente em outros contextos, e foi assim planejado para incentivar a inovação no terceiro setor.